sexta-feira, 25 de maio de 2012

Groupies



Eu moro em SP, tenho 23 anos, estudo, trabalho, mas nada me dá mais prazer do que música. Eu não escuto música com os ouvidos, eu escuto com o coração. Não há nada mais especial nesse mundo do que estar fazendo o que quer que seja, ouvindo música, aí você ouve um verso, uma frase, e parece que a pessoa que tá cantando saltou da música, entrou no seu cérebro e tá falando diretamente com você. Como se você tivesse chamado ela, e falado ‘vem cá, deixa eu te contar os meus problemas’, e ela te ouviu, e tá te confortando.
Parece coisa de gente doida, né?
E aí a música fala com você, e você quer falar de volta, e talvez venha disso essa vontade de querer conhecer quem escreveu aquilo. Tipo quem é essa pessoa? Quando ela colocou uma escuta no meu cérebro? Haha
Pra mim, a vida sempre foi mais do que estudar, trabalhar e sair no final de semana. Eu nunca quis viver o que os meus pais acham que é uma vida ‘direita’. Mas pais são seres humanos como quaisquer outros, e alguns te escutam, outros não. Os meus estão na segunda categoria. Eu sei que eles querem o meu melhor e tudo o mais, mas nós temos visões de mundo muito diferentes, e não importa o quanto eu fale que a vida é mais do que casa-escritório-casa, eles cresceram assim, nesse mundo, e deu certo pra eles, então porque eu acho que estou acima disso? É complicado, mas é algo que eu aprendi a lidar, e hoje nós mais ou menos concordamos em discordar, sabe? Eles sabem o que eu quero, e eu sei o que eles querem, e nós três meio que sabemos que não vamos conseguir o queremos um do outro, então fica meio que por isso mesmo.
E isso eu acho que é outro ponto importante nessa história de groupie.
Inquietação.
Esse sentimento de que a vida é mais que isso, que todo dia MILHARES de coisas podem acontecer, enquanto você está sentado em frente ao computador mexendo numa planilha do Excel, cumprindo uma ordem do seu chefe.
O meu sentimento de inquietação me move, é inegável. Eu quero estar em movimento, sempre. E a música é isso, né? Ela está em movimento. Cada vez que ouve uma música você sente algo. As vezes é a mesma coisa, as vezes não. Tem músicas que eu escuto desde muito nova, que me tocavam de alguma maneira na época, e agora elas me tocam de uma maneira diferente. E aí eu volto pro QUEM DEMONIOS É ESSE SER QUE ME ENTENDIA QUANDO EU TINHA 12 ANOS, E AINDA ME ENTENDE AOS 23???? Hahaha 
Nem eu as vezes sei o que passa pela minha cabeça, e uma pessoa que eu nunca vi na vida, que não sabe nem da minha existência, que morreu antes de eu nascer, que viveu num lugar bem longe e bem diferente do lugar que eu vivo, que passou por experiências que eu nem sonho - COMO essa pessoa fala comigo? 
A música se mexe comigo, ela anda pra frente comigo. Parece até que cresce comigo.
E aí, como eu vou de escutar o Noel Gallagher dizendo ‘if I had a gun, I’d shoot a hole into the sun and love would burn this city down for you’, pra um cara numa balada X tentando me beijar sem nem saber meu nome???
É uma transição meio impossível.
Eu saio de um mundo onde alguém me entende, e me diz coisas bonitas, pra um completamente surreal, que um cara vem conversar com você, e você não aguenta ficar 5  minutos com ele porque ele só fala coisa idiota.
E isso me faz perguntar ‘cade os caras que fazem música? Porque eles me entendem, sem nunca terem me conhecido, e os caras que vivem comigo, que frequentam os mesmos lugares que eu, que vivem na minha ‘realidade’ parecem que saíram de uma história (ruim) de ficção científica?’
Eu quero conversar com as pessoas, me conectar com elas, quero fazer parte de algo. Não simplesmente ver um cara gato na balada, pegar, e tchau e bença, espero que você seja feliz.
Esse post tá ficando super longo, então vou falar sobre só mais uma coisa.
A música é, ao mesmo tempo que volátil, imortal. 
Pensa que o Elvis, os Beatles, os Rolling Stones, e até mesmo bandas mais jovens, tipo Oasis, vão ficar aí pra sempre.
E cada nova pessoa que escutar a música deles, vai sentir algo diferente, vai ouvir algo diferente. 
Então, eles estão sempre mudando, mas nunca morrem.
Se você faz parte desse mundo, você também se torna imortal. Achei um quote na internet, que eu vou colocar aqui:



“But what happens if a writer falls in love with you?
This is a little more predictable. You will find your hemp necklace with the glass mushroom pendant around the neck of someone at a bus stop in a short story. Your favorite shoes will mysteriously disappear, and show up in a poem. The watch you always wear, the watch you own but never wear, the fact that you’ve never worn a watch: they suddenly belong to characters you’ve never known. And yet they’re you. They’re not you; they’re someone else entirely, but they toss their hair like you. They use the same colloquialisms as you. They scratch their nose when they lie like you. Sometimes they will be narrators; sometimes protagonists, sometimes villains. Sometimes they will be nobodies, an unimportant, static prop. This might amuse you at first. Or confuse you. You might be bewildered when books turn into mirrors. You might try to see yourself how your beloved writer sees you when you read a poem about someone who has your middle name or prose about someone who has never seen To Kill A Mockingbird. These poems and novels and short stories, they will scatter into the wind. You will wonder if you’re wandering through the pages of some story you’ve never even read. There’s no way to know. And no way to erase it. Even if you leave, a part of you will always be left behind. 
If a writer falls in love with you, you can never die.”


Acho que é mais ou menos isso também. Esse quote fala mais de livros e histórias, mas é a mesma coisa. Cada música é uma história, né. 
E aí você ama tanto esse mundo, você sente tanto a música, que você quer, de alguma maneira, por menor que seja, ser parte dela.
E a gente carrega conosco todas as pessoas que conhecemos. Mesmo as que não tiveram nenhum impacto na nossa vida, elas estão lá. 
Se você conhece seu ídolo, se você conversa com alguém que escreveu algo que parece ter vindo de dentro de você... Eu me sentiria dentro da pessoa também. E, do mesmo jeito que eu levo ela comigo, ela me leva com ela. 
Aí sabe aquela história da borboleta que bate as asas no Japão e cria um tufão na Califórnia? Quem garante que eu não vou criar um tufão?